sábado, 28 de julho de 2012

Taubatédio

Lembro-me como se fosse hoje...a felicidade do meu pai quando disse que mudaríamos pra Taubaté. Eu estava com 14 anos e meu irmão com 18. Eu estava no auge das minhas amizades, na escola e no prédio, saía todos os finais de semana, era pura diversão e aquela notícia foi bem bombástica, pra todo mundo da família. Meu pai estava muito feliz, pois nessa época ele trabalhava em Ubatuba a semana inteira e só ia pra casa de finais de semana, ele sofria muito de ficar a semana todo sozinho e essa oportunidade de emprego foi a chance dele ter a família dele de volta, numa cidade do interior cheia de qualidade de vida...mas nao foi bem assim. Deixo contar um pouquinho como foi desde o começo.


A vida inteira estudei num colégio particular super forte que a média era 5, e como era difícil tirar 5! Nossa...a gente se matava, tinha calafrios noturnos 1 semana antes das provas começarem, era treinamento militar, enfim, minha escola dava muito medo e ansiedade em nós pobres aluninhos. Quando meu pai anunciou que mudaríamos de cidade, foi em meados de maio...eu já era uma pessoa bem mais magra nessa época, nunca vou esquecer do meu professor de matemática que era um carrasco veio me elogiar em particular pela conquista de ter emagrecido tanto. Eu usava calça jeans, tinha meu cabelo escovado sempre, estava bem mais ajeitada fisicamente. Mas como estudei sempre na mesma escola, desde os 3 anos de idade, minha reputação por lá, não alterou. Eu continuava tímida, boba mas sempre com minhas mesmas amigas e não cheguei a despertar nenhum interesse de menininhos, pelo menos, nunca ninguém se declarou pra mim rs.


Mudamos pra Taubaté em Julho, apenas eu e meu pai, ficamos morando num hotel o mês de Julho inteiro...nossa como era duro dividir o quarto do hotel com meu pai, ele roncava demaiiiis, rs. Duro também nao ter tanta liberdade, mas eu e meu pai sempre nos dávamos muito bem, principalmente na nossa função preferida até hoje que é de COMER rs.


Taubaté é cheio de cantinas deliciosas, pizzarias, lanchonetes e como morávamos num hotel, meu café da manhã era sempre muito doce de leite com queijo, pães diversos, nossa deu água na boca de lembrar!


Todo dia eu e meu pai íamos procurar casas pra alugar e de quebra jantávamos em uma pizzaria que tinha no centro da cidade que meu Jesuis Amadinho, que pizza de rúcula era aquela!!! Ali perto de Quiririm, tinha um restaurante no meio de uma fazenda, lembro que eu comia um prato de macarrão com bacon e uma deliciosa Limonada Suíça com moooito leite condensado. Enfim, eu nao tinha amizades ainda, lá não tinha nada para eu e meu pai fazer alguma coisas juntos ao invés de ficar enfurnado no hotel, nós desbravamos a culinária local mesmo...lembra daquela costela na pedra quente pai? Hmmmmm delicious!


Chegou Agosto, alugamos uma casa num dos melhores bairro de Taubaté, eu estava feliz pois ía fazer novas amizades e eu ía entrar numa nova escola, era uma ótima oportunidade pra eu mudar minha reputação NERD que eu tinha na escola de São Paulo. Toda minha infelicidade começou quando meus pais (sim todos ja haviam mudado pra lá) foram numa escola que era a melhor da cidade tal, e no meio da apresentação do colégio, a moça da secretaria disse que a média escolar era 7. Meu mundo desabou, eu tinha 5 e 6,5 de quase todas as matérias do meu boletim de São Paulo e a secretária me disse da seguinte forma "Não vamos alterar sua nota, você terá que recuperar sua nota para ter que passar de ano, nossa média é 7 e não vamos transformar seu 5 num 7...voce terá que se dedicar mais e recuperar nota, talvez pegar algumas recuperações." O queeeee???? Não! Não quero estudar nessa escola!!! Logo me informei pela internet e vi que na cidade tinha um Objetivo que a média era 5...briguei com meus pais, lutei dizendo que queria estudar nessa outra escola, mas minha tentativa toda foi em vão...a média é 7? O problema é seu...enfim, eles me matricularam e todo o inferno começou.


As aulas começaram, e nesse meio tempo meu corpo todo já havia engordado. O uniforme me deixava um balão. Eu ja comecei a sofrer muito de auto estima, no primeiro dia de aula eu me senti um ET, todos me perguntavam por que eu teria saído da Capital e tinha mudado pra Taubatédio. Sim, esse termo que os próprios nativos usavam e a partir daquele momento, já comecei a pegar um ódio sem tamanho daquela cidade.


Descobri que eu tinha que fazer adaptação de Filosofia pois eu não tive na escola de SP, peguei livros e mais livros e ocupava minhas tarde fazendo um trabalho enorme pra ter pelo menos a média pra dar início nas provas daquele bimestre. Não conseguia gostar de ninguém ali, tinha uma menina apenas que  eu achava super legal, mas ela sentava do outro lado da sala, mas ela parecia ser a única a perceber que eu estava precisando de alguém e fazia questão sempre de conversar comigo no intervalo ou quando eu chegava cedo e ela estava lá. Ela se chamava Marieta, ela era do grupinho das mais populares da escola, então ela só falava comigo quando estava sozinha, quando a panelinha dela chegava, eu voltava a ficar sozinha. Tive que entrar num grupo pra fazer trabalhos, nossa eu cái num grupo que as meninas eram chaaaatas, haja paciência...e nessa, fui entrando numa depressão sem tamanho, descobri que no meu bairro só tinha velhos, não tinha ninguém da minha idade pra fazer amizade, eu andava sozinha lá a tarde pra ver se via alguém e parecia que só tinha eu naquela cidade.


Em meio de todo esse meu sofrimento de auto estima (peso), amizades, escola...vi uma crise muito forte acontecendo em casa...meu irmão tinha 18 anos e namorava uma mulher quase casada aqui em São Paulo e um dia cheguei da escola super desanimada e estava um quebra pau, minha mãe chorando, meu pai surtado. Sim...meu irmão tinha ido embora de casa...ele pegou as roupas dele e veio sozinho pra São Paulo detalhe, sem casa pra morar. Se o clima ja tava ruim meu amigo, voce nao tem noçao do clima trash que ficou naquela casa depois do exôdo rural do meu irmão.


Os meses foram passando, meu peso foi aumentando e a solidão foi piorando. Meu pai, percebendo que eu não estava bem, pagava toda sexta feira uma passagem de ônibus pra eu vir pra São Paulo, eu vinha toda feliz e cheia de esperança. Meu irmão ficou morando num kitnet sujo, fedido, ali devia ter rato, barata. Nossa, um dia fui no quarto que ele morava, tudo sujo, ele nao sabia lavar louça nem roupa aquilo era um muquifo horroroso, eu tive dó dele...e pra piorar, descobri que ele estava fumando cigarro, ecati! Numa das vindas, tive uma festa de 15 anos de uma amiga do prédio, eu ía dançar valsa, tínhamos alugado vestido padronizado, mas aquele vestido, no dia de retirar, faltava 5 palmos pra fechar nas costas. Eu chorei, chorei muito...aliás, todo domingo, quando pegava ônibus na estação Tietê pra ir pra Taubaté, as 2 horas de viagem, eu ía chorando e planejando como eu me mataria rs. Sim, cheguei no fundo do poço.


Um belo dia, meu pai chegou e disse que tinha tirado o apartamento de São Paulo da imobiliária, que havia desistido de vende-lo. Que meu irmão ía morar lá pois não suportava mais ver o filho naquele muquifo, meu irmão chegou a ficar doente...foi tenso o baguio. Enfim, eu fui me adaptando a escola, fui fazendo amizades, lá a Educação Física era fora do horário de aula, eu tinha que ir de tarde pra escola sendo que eu estava de manhã, só pra fazer Educação Física, ah e era bem legal por que voce escolhia o esporte que queria fazer. Então toda quarta e sexta eu ía pra escola pra jogar vôlei, um dos meus esporte preferidos. Comecei a me adaptar, lembro que dava 6 da tarde eu e minha mãe assistíamos o Cravo e a Rosa, eu adorava aquela novela! Duas amigas minhas foram pra lá me visitar, fomos no Show do Capital Inicial (era turnê acústica e dei a mão pro Dinho! rs) fui recuperando minha auto estima e meu peso foi indo embora.


Meu aniversário de 15 anos em Taubatédio foi inesquecível. Estávamos todos no limite. Minha mãe com depressão por que não tinha meu irmão na asa dela, meu pai nervoso com ela e eu, ninguém parecia se importar muito e nem sabiam o que eu estava passando, mas culpa minha mesmo, nunca fui de conversar com meu pais e a história do meu irmão já era tão pesada que eu não queria "causar"mais. Masss, era meu aniversário de 15 anos e eu botei a boca no trombone...ahhh como chorei. Disse tudo o que estava sentindo, tudo mesmo e meu pai virou o BICHO, ele gritou comigo, eu fiquei chorando como um bebê naquela pizzaria (pra variar comendo rs) ele gritava, dizendo que já que eu queria voltar pra São Paulo, então voltaríamos, só que eu iria pra uma escola estadual, por que ele teria que pedir demissão do emprego, enfim ele ficou muito bravo. Todo o sonho dele foi por água abaixo, eu sentia que ninguém se importava comigo, mas ele, que sustentava a família, que dava o suor dele pra termos uma vida boa, de repente viu...os filhos dando as costas. Ele sofreu muito. E eu também. Foi o pior aniversário da minha vida.


Chegando em casa, peguei uma folha de caderno e fiz um esquema de calendário, meu pai disse que em Dezembro voltaríamos pra SP, então a cada dia que passava, eu fazia um risco no dia (com um traço), estilo bandido na prisão mesmo. No dia que meu pai viu aquilo colado na parede do meu quarto, você pode imaginar a fúria dele né? rs.


Em Dezembro, voltamos pra São Paulo.











4 comentários:

  1. Eu lembro!!! Foi um ano muito triste pra mim tb, vc fez mta falta aqui em SP conosco!! E o show do Capital Inicial foi mto legal hahhahaha Iamos pra baladinha , mas era show e como estavamos lá msm entramos e o Dinho ainda pegou na nossa mão hahahhaha Ainda bem que vcs voltaram "logo"!!!

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    1. Aiii Juuu lembra a gente no Estrutura, a gente ficou lá na frente super fácil haha...eu amo vc! bjo!

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  2. Cara, não acredito que seu pai voltou pra sampa por conta de vocês! admirei ainda mais saber que abriu mão assim do seu sonho por vocês!

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    1. Sim!!! Ele fez isso pela família, meu pai é um exemplo viu!!!

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